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Três junhos em Londres


Capítulo 01 e 02

Três junhos em Londres – por Yash

Prólogo



- Tudo bem, , o segredo é continuar respirando.
Eu não tinha acreditado que depois de tudo eu ia voltar a sentir aquilo. Era como se outra faca entrasse no meu peito, só que mais profunda. Eu tinha vindo para Londres para esquecer todas as ofensas, todos os choros e todas as marcas do Brasil. E quando eu pensei que aqui eu estaria bem e que finalmente eu tinha encontrado o garoto dos meus sonhos... Todo aquele bullying aparece de novo. Eu era xingada e humilhada por amar e fazer feliz o ídolo de alguém. Eu não desejaria esse sentimento a ninguém. Como elas poderiam me julgar sem saber da minha vida? Sem saber de mim? Eu só queria desaparecer, ninguém poderia sentir o que eu estava sentindo, porque por todo esse tempo eu estava calada, chorando pelos cantos da casa. Eu era forte por fora, mas por dentro eu queria só queria desaparecer.
- , não fica assim... Eles não sabem das coisas que fazemos, não sabe sobre os: “Eu te amo”, não sabem de todas as noites. Eles não sabem que eu esperei a minha vida toda pra encontrar você. E eu aposto que se soubessem ficariam com ciúme de nós.
- ... - Me virei para o lado da cama, olhando em seus olhos e via o quão chateado ele também estava.
- Isso daria uma bela música – eu sorri sincera.
- E deu... E eu deixo você escolher o nome.
- Eles são sabem sobre nós, eu sei que eu não deveria ligar, mas eu sou assim, sensível e fraca. Mas mesmo assim eu enfrento o que for pra ficar com você. Não importa o que venha pela frente.
- Acho que você tá me dando mais inspiração pra escrever o resto dessa música... E olhando pra você, eu acabei de escolher o nome.
- Não seria eu que iria escolher?
- Sim, e você escolheu.
- Como assim? O que eu falei?
- Eles não sabem sobre nós. Essa vai ser a nossa música.

Capítulo 01 - Recomeço

Mesmo as minhas lembranças não sendo as melhores, eu sorri. Sorri por estar de volta ao lugar que sempre me pertencera. Era estranho, estar em um país que mesmo sendo seu, não te deixava confortável, como se alguma peça faltasse, como se eu simplesmente estivesse em um continente errado. E na verdade eu estava. Eu tinha passado toda a minha adolescência do Brasil sofrendo, sendo zoada na escola, com apelidos nada confortáveis. Eu ainda me lembrava de chegar em casa chorando, por mais um dia péssimo na escola. Eu simplesmente não conseguia fazer amigos, como se eu tivesse um bloqueio por todos eles. Eu não tinha amigos, eu tinha inimigos. Eu era zoada várias vezes por ser esquisita, por não conversar e até mesmo por ler livros demais.
Mas eu sabia que um dia tudo isso iria acabar, eu iria voltar para Londres, iria voltar para a casa do meu pai e tudo iria ficar bem, como sempre tinha que ser. O engraçado era que eu não me lembrava de quase nada sobre Londres, eu quase não tinha lembranças das pessoas com quem eu convivi, mas a minha vida toda e o meu coração pedia para voltar, como se tivesse alguém esperando por mim. Lucy sempre dizia que talvez isso fosse algum sonho que eu tive e nunca esqueci. Impossível. Eu me lembrava de quase todos os meus sonhos, e nunca tive um que fosse tão impressionante assim.
Pelo que eu ainda conseguia me lembrar, a única coisa que me ligava à Londres era o meu pai. Depois que minha mãe e o meu pai se separaram, há quatro anos, meu pai resolveu voltar para Londres. Que tinha sido a nossa casa durante cinco anos. E difícil de explicar, eu era brasileira, tinha nascido no Brasil, mas quando eu completei um ano, meus pais resolveram que iriam morar em Londres para ficarem perto de alguns amigos, já que meu pai tinha recebido uma proposta de emprego por lá. Moramos lá durante cinco anos. Ainda sem saber o motivo, porque minha mãe nunca me contou, nós voltamos... Alguns anos depois, meus pais brigaram. E ele simplesmente me deu um beijo de despedida e disse que um dia me buscaria, e foi embora.
Fazia um tempo desde que eu tinha o visto pela última vez, ele tinha vindo para o Brasil no Natal, que mudou completamente a minha vida. Depois de várias discussões, gritos da minha mãe e do meu pai, eles finalmente chegaram a um acordo: Ela me deixaria ir para Londres durante três anos para eu entrar em um curso de teatro, já que na Inglaterra eu tinha mais chances do que aqui. Eu tinha concordado de bom grado, era o meu sonho ser uma atriz, estar na Broadway, eu não desistiria fácil. Eu iria pra Londres... Pela primeira vez na minha vida, eu tinha conseguido uma peça que finalmente encaixasse no meu coração.
- Olha quem chegou! - Uma voz conhecida me despertou, olhei para frente vendo meu pai parado em frente ao aeroporto, eu sorri como uma garotinha ganhando doce no Halllowen, eu sentia falta dele.
- Papai – sussurrei entre seu abraço.
- Pronta pra conhecer Londres? - Ele perguntou com a voz embargada e eu respirei fundo antes de responder. Londres era o meu sonho desde pequena, mesmo morando aqui quando era pequenininha, eu não me lembrava de muita coisa, na verdade de nada. Gostava da ideia de redescobrir as coisas.
- Pronta pra realizar a primeira etapa do meu sonho – dei de ombros e sorri colocando a mala dentro do carro e olhando para a grande London Eye.

* * *
Encostei a cabeça no vidro do carro admirando a paisagem e sorri comigo mesma, era tão lindo e tão frio ao mesmo tempo. Mesmo entrando no verão, Londres ainda tinha seu clima fresco e era uma das coisas que eu mais gostava: Frio. Papai estacionou o carro em frente a uma linda casa branca, com dois andares e com um jardim completamente impecável. Parecia uma daquelas casas dos filmes da Disney e eu não pude deixar de sorrir, eu me lembrava daquela casa, mesmo sendo pequenininha, eu me lembrava.
- Eu me lembro dessa casa – disse enquanto saía do carro e meu pai me encarou enquanto eu mantinha o olhar na fachada da casa.
- Saímos daqui quando você tinha seis anos, , como você se lembra? - Ele perguntou confuso e eu sorri.
- Talvez eu me lembre das coisas que foram importantes pra mim – dei de ombros e meu pai sorriu.
A cada passo que eu dava por cada canto da casa, eu me lembrava da minha infância. Risos, gargalhadas e eu correndo com uma garotinha a minha volta - que eu não conseguia me lembrar quem era. - por cada canto da casa, um tom de família reunida passou pelo meu coração e eu senti o meu peito doer, como se faltasse alguma coisa, alguém que eu não me lembrava quem era, mas que mesmo assim eu sentia falta. Subi as escadas e abri a segunda porta à direita, me deparei com um quarto rosa bebê com prateleiras cheias de brinquedos, bonecas e desenhos espalhados pelas paredes do quarto, esse era o meu quarto.
- Não mudei em nada, desde que você foi embora... - Ele tentou sorrir, mas eu vi o quão triste ele estava por eu não estar mais ali, e eu também estava triste por dentro, eu sentia tanta falta daquilo tudo. Sentia falta da minha vida.
- Eu mal cheguei, e não gosto da ideia de ter que te deixar de novo – falei, engolindo a seco e ele sorriu e me abraçou.
- Temos três anos para matar essa saudade, e três anos pra você ser uma estrela. - Ele beijou a topo da minha cabeça e eu não deixei de sorrir.
- Obrigada por me salvar daquele inferno – sussurrei.
- Você sabe que Londres sempre vai ser sua casa.
- Sempre foi. - Sussurrei.

* * *
Quando chegou a noite, meu pai disse que veríamos alguns amigos, que segundo ele, estavam morrendo de saudades de mim. Mesmo eu não me lembrando de quem se tratava, assenti e fui para o meu quarto me trocar. Coloquei um short jeans e uma blusa laranja e uma mini bota, arrumei meus cabelos os deixando soltos. Desci as escadas e meu pai já estava me esperando. Fomos o caminho inteiro em silêncio, eu queria perguntar mais coisas sobre quem iriamos ver a ele, mas resolvi ficar quieta, ele queria me fazer uma surpresa, e mesmo sabendo que eu não me lembrava de muita coisa, eu entendi.
Ele estacionou o carro em frente a uma casa enorme, com um jardim de se dar inveja a qualquer criança que passasse por ali. Mesmo não fazendo ideia de quem morava ali, eu não estava nervosa com quem iria encontrar. A mão de papai deslizou duas vezes sobre a campainha e eu estremeci ainda confusa com tudo aquilo, a porta se abriu e uma mulher, que não passava dos cinquenta anos atendeu e sorriu, seus olhos logo se fixaram nos meus e eu me senti em casa, era a Tia Chloe, agora a vendo bem na minha frente eu tinha me lembrado. Como eu poderia esquecê-la eu ainda não sabia.
- Oh meu Deus! , é você... - Recebi um abraço caloroso que eu pude chamar daqueles que você sempre queria ter por perto. Tia Chloe era a mulher mais doce e amável que eu tinha conhecido na infância, mamãe e papai eram seus amigos, eu tinha crescido junto com ela, e com aquelas crianças da minha memória que eu imaginava agora serem filhos dela.
- Eu ainda não acredito que eu estou vendo a senhora – falei com uma voz rouca e ela sorriu.
- Venha, vamos entrar. – Quando ela nos puxou para dentro, eu reconheci cada canto daquela casa, como se fossem memórias que vão e vem.
Sentamos em um enorme sofá branco junto com ela que ainda mantinha seu sorriso encantador.
- Como conseguiu arrancá-la dos braços de Emma, Juan? - Tia Chloe manteve os olhos para o meu pai ainda sorrindo e ele riu olhando pra mim.
- Não foi fácil, mas foram os sonhos dela que a trouxeram de volta, não eu – ele falou em um tom orgulhoso e eu sorri tímida, eu não estava acostumada a ser tietada.
- Você ainda se lembra da gente, meu amor? - Ela perguntou em um tom preocupado e eu assenti.
- Mais ou menos, acho que quando eu vir todo mundo eu vou lembrar, eu era muito pequena... Mas eu guardei as melhores lembranças comigo – respondi.
- É bom tê-la de volta – ela segurou minha mão e eu sorri. Depois de tantos anos, foi a primeira vez que eu me senti querida e amada de novo. Passos vindos das escadas, tiraram minha atenção de tia Chloe, quando eu vi uma menina de cabelos castanhos cacheados descendo as escadas. Quando seu olhar cruzou com o meu e eu congelei, assim como ela os dela também. - ? - Julia, sim eu lembrava o nome da minha melhor amiga de infância! - Abriu a boca histericamente e correu até mim e eu a abracei forte.
- Sim sou eu! - A abracei forte eu senti uma lágrima cair de seu rosto - Eu não acredito que você tá aqui droga! Caramba garota, como eu senti sua falta – ela falou e eu limpei algumas lágrimas que tinham caído do meu rosto e parei para olhá-la – Eu também senti a sua – falei.
- Agora que você voltou eu não vou te deixar ir embora ouviu? Nem por nada! - ela me abraçou forte e eu ri, nossos pais observavam nosso reencontro com brilho nos olhos me fazendo rir.
- Eu não vou embora tão cedo, pretendo encher o seu saco por muito tempo – prometi.
- Acho que tem uma lágrima no meu olho, olha que fofas, Juan – Tia Chloe sorriu para o meu pai e nós desviamos a atenção para eles e demos uma gargalhada. - E eles continuam sendo caretas e ridículos – Julia olhou pra mim e eu soltei uma gargalhada - JULIA! - Tia Chloe a reprendeu e nós rimos.

* * *
Eu não tinha palavras pra descrever todos os dias que eu estava tendo em Londres, já fazia uma semana em que eu estava lá e quase todos os dias eu saía com Julia para repor todas as coisas que deixamos para trás. Íamos estudar no mesmo colégio e no mesmo curso de Teatro já que nossos sonhos sempre foram parecidos desde crianças: ser uma estrela. Saímos do shopping e entramos no Audi preto de Julia, de volta para casa de Tia Chloe, hoje eu iria dormir lá já que meu pai tinha viajado a negócios e só voltava amanhã. Eu passava quase todos os meus dias com Julia e tia Chloe, elas me faziam se sentir bem, de um jeito que eu nunca tinha sentido no Brasil, talvez aqui que fosse minha casa, não lá. Talvez eu nunca mais quisesse voltar.
- Os meninos chegam da turnê amanhã! - Julia comentou animada enquanto mantinha os olhos na estrada e eu olhei pra ela ainda confusa. - Que meninos? – Perguntei.
- Af que cabeça minha, esqueci de falar deles pra você! - Julia bufou e eu encostei a cabeça no banco, pronta para mais uma história.
- Você se lembra do ? - Ela perguntou de repente e o meu coração acelerou, eu não me lembrava do , ou pelo menos era isso que eu pensava. Depois que eu voltei para o Brasil parecia que eu tinha bloqueado todas as coisas daqui. E era a peça do quebra-cabeça que faltava, algo que eu não conhecia ou não lembrava que mesmo assim sentia falta.
- Eu me lembro mais ou menos – falei – Só me lembro que ele é o seu irmão.
- É sério? - Ela perguntou espantada e eu a olhei, confusa.
- Como assim? - Perguntei e ela ficou séria.
- Nada esquece, mas enfim... Ele tem uma banda, que é meio famosa – ela sorriu.
- Que banda? - Perguntei olhando a estrada pelo vidro, daqui a pouco iria começar a chover.
- One Direction – ela falou rápido. Tirei o olhar da janela e virei para ela. O irmão dela era integrante da boyband mais famosa do mundo? Tia Chloe tinha um filho famoso? Era o ? Minha cabeça deu um nó e eu olhei pra ela confusa e arqueei as sobrancelhas.
- Por que você não disse isso pra mim antes? - Perguntei franzindo o cenho e ela olhou pra mim.
- Pensei que você soubesse, a banda deles é conhecida no Brasil também... Pelo menos é o que eu pensava. - Ela explicou. É claro que eu sabia quem era One Direction, só não imaginava que conhecia ou achava que conhecia um membro da banda. Porque também eu nunca tinha parado para olhar nem sequer um CD deles, nem mesmo um clipe. Eu não era ligada nessas coisas.
- Eu não consigo me lembrar do seu irmão... - Sussurrei tentando forçar a memória.
- , você só tinha seis anos quando foi embora, isso é normal, a gente não é obrigado a lembrar de tudo.
- Mas eu queria lembrar... - Sussurrei como se isso fosse a coisa mais importante do mundo, como se eu lembrasse dele, pudesse mudar tudo. Eu sei que parecia idiota, mas no fundo fazia sentido.

* * *
Quando chegamos à casa de Julia, falamos com tia Chloe e subimos para o quarto. Coloquei uma camisola branca com detalhes vermelhos e deitei na cama ao lado dela que ainda parecia prestar atenção na primeira temporada de Glee.
- Eu não entendo, o Finn não gosta da Rachel? Por que ele tá com a Quinn? - Julia perguntou enquanto abria um pote de nutela, peguei uma colher e a enchi de chocolate.
- Sim, só que ele precisa da Quinn para serem populares, se ele ficar com a Rachel ele não vai mais ser popular, entendeu? – expliquei.
- Eu não acredito que ele prefere ser popular a viver feliz com uma garota que ele gosta, isso parece ser egoísta com si mesmo.
- Você não iria gostar de ser jogada na lata do lixo e levar raspadinha na cara, ia? - Perguntei e Julia fez careta.
- Acho que a gente deveria se arriscar por um grande amor, se for verdadeiro vale a pena levar todo dia raspadinha no meio da cara e ser jogado na lata do lixo. - Julia suspirou e eu sorri, eu achava a mesma coisa, eu vivia achando isso toda a minha vida “encontrar um amor verdadeiro”, mas eu sabia que contos de fadas só existiam em séries. Eu nunca tinha achado alguém que me amasse pelo que eu era, eu nunca tinha encontrado alguém que lutasse por mim, e isso era o que mais doía.
- Mas ainda dá tempo de ele se arrepender e lutar por ela, antes que ela se vá e ele fique como todo o resto, vazio. – respondi.
- Tá na cara que a Quinn só está com ele porque ele é popular, e olha a Rachel, ela não pode ser uma Cheerios, mas ela é linda e talentosa, queria ser alguém como ela.
- Você não iria querer ser uma loser, Julia, acredite. – Sussurrei.
- Não estou falando de ser loser, estou falando de ter o talento dela pra cantar. Eu sou péssima, roubou todo talento dessa coisa de voz pra ele.- ela enfiou uma colher de chocolate na boca.
Mais uma vez o nome dele, eu tinha que parar de ficar tensa toda vez que ouvia sobre ele. Eu não sabia por que ou o que, ele era só um menino que fez parte da minha infância, nada mais.

* * *
- Bom dia, flor do dia! - Uma Julia sorridente falou enquanto eu descia as escadas já com o uniforme do colégio e tia Chloe sorriu enquanto colocava os pratos do café da manhã sobre a mesa.
- Bom dia – sorri me sentando ao lado de Julia e me servindo com uma torrada.
- Preciso pegar minha mochila pra ver se tá tudo certo, já volto – Julia saiu do seu lugar e correu pra sala e eu dei mais uma mordida em minha torrada.
- Querida, pode me ajudar com esses pratos, tem apenas mais um na cozinha, pode trazer pra cá? - Tia Chloe pediu enquanto arrumava a mesa do café eu assenti, me levantando indo pegar mais um prato que ela tinha pedido, estranhei já que só tinha nós três na casa, para que ela queria mais um prato? Peguei rapidamente e voltei para a sala de jantar quando os meus olhos encontraram com aqueles olhos tão conhecidos pela minha memória, eu tinha me esquecido dele, mas olhando aqui, agora, parecia que todo o passado de criança havia voltando. Deixei o prato cair sobre o chão, seu olhar estava grudado no meu, era ele, agora eu me lembrava de , o meu .

Capítulo dois "Memorie"

- Querida, está tudo bem? - Tia Chloe me perguntou e eu desviei o olhar de para olhá-la e assenti com a cabeça.
- Me desculpe, só me atrapalhei – disse, abaixando para pegar os cacos de vidro.
- Você não precisa limpar isso, temos um monte de empregadas – A voz rouca de sussurrou e eu levantei antes mesmo de me abaixar completamente.
- Está tudo bem querida, depois eu peço para Dany limpar isso – Tia Chloe sorriu.
- Então, você se lembra do ? - Ela deu o maior sorriso do mundo e eu olhei para novamente. Ele tinha crescido, assim como eu. Seus olhos ainda eram os mesmos. Estava com um uma blusa de manga azul com detalhes, calça jeans e All Star branco. Seus olhos encontraram os meus e eu ainda estava confusa com tudo aquilo. Mas como eu poderia me esquecer dele? Eu não sabia como, mas olhando para ele agora, eu tinha lembrando de todas as vezes que eu tinha sido feliz naquela casa.
- Mais ou menos, você cresceu – Falei e ele sorriu fraco.
- Lembra da , ? - Agora a pergunta tinha sido para ele e seus olhos ainda estavam em cima de mim. - Mais ou menos, ela também cresceu – ele sorriu e o meu rosto esquentou.
- Iria ser esquisito se passassem dez anos e nós ainda continuássemos crianças – sorri e ele riu.
- Senti sua falta – ele sussurrou.
- Bom saber – dei de ombros. Depois de alguns segundos Julia apareceu e todos nós nos sentamos na mesa de café da manhã e tia Chloe começou a perguntar como tinha sido a turnê de , e ele começou a falar como se fosse o incrível gostosão, falando de todas as garotas. Mas a verdade era que ele era o gostosão, eu tinha que concordar com isso.
Levantei-me rapidamente, pedindo licença e saí da mesa de café da manhã e fui até o quarto de Julia checar se todos os meus materiais estavam na mochila. Não queria esquecer as coisas no meu primeiro dia de aula. Eu não podia esconder que eu estava nervosa ao vê-lo de novo, tinha se passado tanto tempo, e eu tinha esquecido dele, ou a minha mente apenas tinha o bloqueado, éramos crianças. Comecei a arrumar a mochila quando eu ouvi a porta do quarto abrir, eu não iria perguntar quem era, eu já sabia.
- Você não pode invadir o quarto das pessoas assim – Falei sem olhar para trás enquanto já sentia meu coração acelerar. Eu estava nervosa, mas não queria que ele percebesse isso. - Eu só queria me certificar se era você mesma – Ouvi sua voz e virei para olhá-lo. Ele estava encostado em frente à porta com aqueles malditos olhos que eu não conseguia parar de olhar. - Não sou eu, sou apenas um fantasma – falei com ironia. Que pergunta idiota!
- Continua a mesma palhacinha, acho que as coisas não mudaram tanto assim – Ele riu pelo nariz e eu sorri.
- E vejamos que você continua o mesmo metido de sempre, só que agora com A+ - Provoquei e ele arqueou as sobrancelhas.
- Desde quando eu fui metido? - Ele cruzou os braços e eu franzi o cenho. Também cruzei os braços e joguei um olhar desafiador, o que o fez rir.
- Desde quando você sempre queria fazer os melhores castelos de areia e sempre queria ter razão em tudo, e que sempre jogava minhas bonecas na casa do vizinho e... - Eu parei de falar quando notei que ele estava perigosamente perto e tampou a minha boca com o seu dedo indicador e eu fiz uma careta. Senti sua respiração quente e olhei diretamente para sua boca, que agora parecia perfeitamente modelada. Fechei os olhos para tentar não ficar nervosa, mas ele apenas beijou o meu rosto rapidamente e andou até a porta. Olhei confusa pra ele quando virou para trás para me olhar.
- Você tem razão, não deveria ficar perto de alguém como eu – ele piscou e saiu do quarto, me deixando ali, com todos os pensamentos ridiculamente ridículos que passavam pela minha cabeça.
Eu não tinha mais seis anos e não era mais a garota de dez anos atrás. Eu tinha dezesseis anos, eu tinha mudado tanto fisicamente como psicologicamente, só que por dentro eu só tinha piorado. Ninguém precisaria saber dos meus problemas e eu estava disposta a enterrá-los junto com todas as coisas do Brasil. Eu tinha que parar de achar que eu não era capaz de todas as coisas, eu sabia que era capaz por dentro, mas por fora eu me sentia perdida assim como um carro desgovernado, e agora eu estava prestes a realizar todos os meus sonhos, e uma boa parte dele já tinha se realizado, voltar para esse lugar.
Tia Chloe tinha mandando levar Julia e eu para a escola e no caminho inteiro engatamos uma conversa sobre a nossa infância, o que me fez rir, aliás, rir muito. Costumávamos ser o trio perfeito, ou quase isso. Mas mesmo tendo nossas desavenças, éramos amigos.
Eu não conseguia parar de pensar nele. Era o meu primeiro dia de aula e a minha cabeça estava em outro lugar. Julia me deu um pontapé e eu olhei para trás onde ela apontava para a professora e eu suspirei a ouvindo falar. Quando a aula acabou, fomos na direção onde estava o nosso maior sonho, A School theater scene. Ninguém imagina o quanto isso era importante para mim, e o quanto eu estava pulando por dentro por conseguir isso.

Fechei o caderninho e suspirei com mais uma dor no coração que eu sentia ao fechar todos os dias aquele mesmo caderno. Ela não iria ler o que eu escrevia para ela, mas escrever para ela era como se aliviasse as coisas que eu estava sentindo. Mesmo não sabendo onde ela estava, ou se estava viva ou não, ela sempre iria ser a pessoa que iria entender a minha dor. O motorista parou e nós saímos do carro e abrimos a boca juntas, era a maior escola que eu já tinha visto. Seu campus com um gramado imenso e o enorme prédio me deixou com o queixo caído. Caminhamos até lá, indo até o balcão e demos nossas fichas à diretora.
- Sra. Julia , sua ficha está na outra recepção, é só virar à esquerda e ir direto. Os papéis que você precisa assinar estão lá – A senhora que parecia ter mais ou menos sessenta anos informou e Julia assentiu, caminhando até lá. Então os olhos da senhora viraram para mim, ela olhou meus documentos e me deu uma caneta para que eu assinasse.
- Então, se cruzou o oceano para vir pra cá, pretende ser mesmo estrela, Sta. ? - Ela perguntou enquanto eu assinava e eu apenas sorri. - É o meu maior sonho – disse, entregando os documentos a ela.
- Então nunca desista deles, mesmo as pessoas dizendo o contrário, siga em frente e derrube todos que tentarem te derrubar. Você está na sala quatro, as aulas começam em quinze minutos - Ela disse firme, mas com uma ponta de sorriso nos lábios e eu sorri sincera para ela.
- Obrigada – Sussurrei e fui em direção à sala de aula.
A sala ainda estava vazia, caminhei até a quarta cadeira e senti o eco do meu salto alto naquela sala vazia. Eu não costumava usar saltos, na verdade odiava, machucava muito, mas hoje eu queria causar uma boa impressão, pelo menos só hoje, não estava disposta a trocar minhas sapatilhas e todos os meus pares de All Star por essa coisa enorme e dolorida. Fitei o quadro por alguns instantes até que a porta se abriu, e um garoto de suéter e topete apareceu e sorriu para mim. Ele parecia mais com a versão de Kurt Hummel de Glee, mas eu não iria chamá-lo de gay, eu nem o conhecia. Não era legal julgar as pessoas pelas aparências.
- Hey, você é novata, não é? - Ele perguntou vindo em minha direção e eu assenti. Ele era bastante estiloso e andava reto como se fosse um artista.
- Sou sim, na verdade acabei de chegar – sorri fraco.
- Então bem-vinda, e boa sorte pra enfrentar o mau humor da Sra. Whater.
- Ela vai ser nossa professora? – Perguntei.
- Não, nossa professora é a Tasha, Tasha Walker. Sra.Whater é só nossa professora de coreografia e postura. - Ele explicou e eu suspirei.
- Só espero que eu me acostume, isso tudo é um sonho pra mim – falei e seus olhos verdes brilharam. Reparei em seus cabelos visivelmente arrumados com gel. É, ele era o clone de Kurt Hummel.
- Então nunca desista dele – ele sorriu – Você não parece ser daqui de Londres – ele franziu o cenho e eu ri.
- Não sou, na verdade, nasci no Brasil, mas me mudei pra cá quando ia fazer um ano e depois me mudei de novo para o Brasil quando tinha seis anos. Só que depois que os meus pais se separaram, fiquei no Brasil com a minha mãe e o meu pai voltou pra cá, e agora eu vim ficar com ele, enfim, é uma história complicadíssima – suspirei.
- Não deve ser fácil pra você – ele sorriu fraco.
- Não foi, mas graças a Deus, depois de tanto eu tempo eu estou de volta, e só espero que tudo dê certo dessa vez. - Suspirei – Quero ser uma estrela.
- Você parece com a Rachel de Glee – ele riu.
- Engraçado, agora pouco eu estava achando você a cara do Kurt – eu gargalhei e ele apenas riu.
- Poxa! Tá tão na cara assim que eu sou gay? Tô vendo que o meu esforço no primeiro dia de aula pra ser um hétero pareceu inútil – ele gargalhou e eu ri junto.
- Só tem uma coisa – apontei e ele me olhou - Eu não sou enjoada igual a Rachel e não costumo usar meias três quartos – sorri e ele riu e abriu a boca pra falar.
- E nem eu costumo usar cachecol, neném! - Ele deu de ombros e eu ri quando ele disse neném. Era engraçado o sotaque britânico dele. Eu tinha praticado muito inglês, por isso dava para enganar sobre a minha verdadeira nacionalidade.
Depois de alguns segundos uma Julia furiosa entrou na sala e nossa atenção virou-se para ela.
- EU VOU MATAR AQUELA VELHA! - Ela falou furiosa e eu franzi o cenho, de quem ela estava falando?
- Já sei, você encontrou com a senhora Whater, e eu sei ela é uma vaca – O menino que eu ainda não sabia o nome disse.
- Ela costuma ficar de TMP o ano inteiro? - Julia se sentou ao nosso lado e o garoto apenas riu.
- Não querida, ela já está na menopausa. Deve ser isso que causa o estresse dele – ele deu de ombros e nós rimos.
A aula tinha começado há 35 minutos enquanto Tasha falava sobre as regras do teatro com a classe. Eu tinha gostado dela, a forma de como ela explicava as coisas chatas não as deixando intensamente entediantes e das graças que ela fazia com os alunos. Ela tinha dito que nossa formatura iria ser daqui a dois junhos, ou seja, daqui a três anos e eu mal podia esperar para ter minha primeira apresentação, e segundo ela nossa primeira peça iria ser daqui a três meses, o que me deixava cada vez mais empolgada a cada novidade que ela soltava. Ela espalhou caderninhos vermelhos para toda a sala entregando um a cada aluno.
- Vocês devem estar pensando, o que fazer com essa coisa neutra e brega não é mesmo? - Ela riu e continuou falando – Esse caderno a partir de hoje vai ser a vida de vocês. Tudo que acontecer de importante na vida de vocês. Vocês irão anotar cada momento de suas vidas a partir de hoje, irão decorar o caderno do jeito que vocês quiserem e na formatura vocês irão trocar com a dupla de vocês. E o seu colega irá ler o seu caderno, e você irá ler o caderno do colega de vocês. Então boa sorte, vocês já podem escolher a dupla de vocês. A aula acabou, vejo vocês amanhã! - Ela sorriu e mandou beijos antes de sair da sala.
Eu e Julia iríamos fazer dupla, e tinha parecido que o garoto que havia conversado comigo tinha encontrado outro garoto para fazer dupla com ele. Eu sorri ao vê-los conversando, parecia que os dois estavam se entendendo bem. Deixei a sala com Julia e fomos em direção ao campus da escola e ao carro que já esperava pela gente.
- Hey! - Ouvi uma voz cansada e olhei para trás quando vi o menino de suéter correndo em nossa direção.
- Oi – falei sorrindo.
- Você não iria embora sem dizer o seu nome iria? Logo agora que eu conheci duas garotas legais nessa escola! - ele fez uma careta.
- Meu nome é , – sorri.
- E o meu é Julia , mas pode me chamar de Ju – Julia falou sorridente.
- Meu nome é Peter, Peter Cohen – ele falou ainda com a respiração ofegante por te corrido atrás de nós. Julia já tinha ido em direção ao carro e eu olhei para trás quando a vi fazendo o sinal para eu me apressar .
- Prazer Peter, a gente se encontra por aí – sorri para ele e entrei no carro. Parecia que eu iria ter mais um novo amigo. Eu gostava da ideia de alguém gostar de mim, às vezes eu só me identificava com os Londrinos.
- Você viu o Peter? Ele é um amor! – Falei, sentando no banco de trás do carro e olhei para Julia, que riu. Quando olhei para frente vi a cara de no banco do motorista e levei um susto.
- AH! QUE SUSTO! - falei alto.
- Eu sou tão feio assim, ? - Ele perguntou intrigado e eu bufei. - Não, só que eu esperava olhar para a cara do Jimmy, não a sua. – falei.
- Ok então, vou entender isso como um 'Não, você não é feio, só fiquei nervosa quando te vi'' – ele imitou a minha voz e eu bufei.
- Você não me deixa nervosa, ! – falei, tentando não parecer que eu estava mentindo, porque eu estava. Ele mexia comigo sim, mas eu não iria admitir isso. Eu só tinha convivido com ele por um dia e meio depois de 10 anos. Muita coisa tinha mudado. - Como eu senti falta da briguinha estúpida de vocês – ela sorriu entre gargalhadas e eu franzi o cenho.
- Eu não tenho culpa se a se encantou com o tal de Peter – falou intrigado e eu não entendi porque ele estava irritado.
- Não começa, ! Não faz nem meio dia que eu te reencontrei, mas eu já estou disposta a entrar em uma discussão – arqueei as sobrancelhas em um tom desafiador e ele riu.
- Ok, se acalme aí, – ele suspirou – Consegui duas entradas pra vocês no show de semana que vem na 02 arena. - Ele jogou os ingressos no banco de trás e Julia pegou.
- Com direito a camarim? - Os olhos da Julia brilharam e eu a olhei sem entender. riu. - A Julia tem uma queda pelo , . Só que ele é muito galinha pra ela – fez uma careta e deu partida no carro.
- Você que é um idiota super protetor, e o tem sim uma quedinha por mim – Julia provocou e eu vi fazendo uma careta e depois bufar.
- Não é para o seu bico – rebateu. Mesmo se Julia não tivesse nenhum envolvimento com ele, eu entendia isso, mesmo sendo só dois anos mais velho que a irmã, ele a protegia. Pelo menos ela tinha um irmão mais velho para protegê-la, eu nunca tive a chance de ter um irmão, pelo menos não que eu saiba.

N/A: : Oi gente! Espero que vocês tenham gostado desses dois capítulos. hahaha Vocês devem saber que é de tamanha importância deixar um comentário né? Porque é a única coisa que eu ganho mas que me deixa extremamente feliz. Então quem quiser comentar, eu agradecerei. hahaha. PS: As atualizações não vão demorar a sair ok? Isso depende dos comentários aqui em baixo. Continua ou não?

6 comentários:

  1. Perfeittooo Yash Continuaaa pfvv acho q ja li umas 3 vezes e nao canço 😍😍😍😍👑❤Tu reinaaa

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  2. Muito Perfeito tudo Lindo no Blog não vejo a hora de vc postar mais capítulos estou contando os minutos. Bjs tem muito talento .<3

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